Os arranjos de Claus Ogerman na obra de Tom Jobim: revelação e transfiguração da identidade da obra musical – Amplificar

Os arranjos de Claus Ogerman na obra de Tom Jobim: revelação e transfiguração da identidade da obra musical

Resumo

O presente trabalho visa contribuir para uma conceituação de arranjo musical como elemento formador da identidade de uma obra musical e para um melhor entendimento acerca do papel do arranjador nesse processo, com base na análise crítica da parceria que o compositor brasileiro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim (1927-1994), estabeleceu com o maestro e arranjador alemão Claus Ogerman (1930- ) no período entre 1963 e 1980. Com base nas reflexões de Leo Treitler (1993) acerca da ontologia da obra musical, a presente pesquisa pretende romper com a ideia de “obra fechada”, cristalizada em uma partitura, performance ou em um conceito ideal, entendendo a obra musical como uma instância fluida, de identidade maleável. Desta forma, o arranjo é compreendido como o processo de caráter ambivalente que, por um lado, circunscreve a obra musical num enunciado sonoro, revelando sua identidade e, por outro, transfigura essa mesma identidade, fluida e maleável, promovendo mudanças nos elementos que a constituem e/ou acrescentando-lhe novos elementos. A análise da parceria Jobim/Ogerman foi feita com base em cópias de manuscritos originais de arranjos das composições de Jobim, disponibilizados on-line pelo Instituto Antonio Carlos Jobim. Foram analisados manuscritos de arranjos de autoria de Jobim e de arranjos de Ogerman posteriores aos de Jobim, procurando, dessa forma, avaliar a natureza e a profundidade da intervenção do trabalho de Ogerman. Buscou-se, ainda, avaliar como a parceria se desenvolveu ao longo dos 17 anos em que ocorreu. Para fazê-lo, a pesquisa identificou três linhas de trabalho assumidas por Jobim nesse período e observou a relação e a transformação do tipo de trabalho exercido por Ogerman como arranjador com essas linhas de trabalho. A obra de Tom Jobim com arranjos e regência de Claus Ogerman se revela bastante útil para exemplificar as diversas funções que o arranjador pode exercer dentro do espectro que compreende desde a simples arregimentação de ideias até a completa reelaboração a partir de uma ideia musical pré-existente. Desta forma, fica mais evidente a função do arranjo na revelação e transfiguração da identidade da obra musical.

This research intends to contribute to a conception of arrangement as a process that forms the identity of a musical work, and to a better understanding of the role of the arranger in this process, by means of analysis of the partnership the Brazilian composer and songwriter Antonio Carlos Jobim established with German arranger and conductor Claus Ogerman from 1963 to 1980. Based on Leo Treitler’s (1993) ideas regarding the ontology of the musical work, this research understands the musical work as a concept whose identity is fluid and malleable. Thus, the arrangement is considered a process that, on the one hand, enunciates the musical work, revealing its identity and, on the other hand, modifies and adds new elements to the work, transfiguring its identity. Manuscripts of Jobim’s compositions arranged by the composer himself, by Ogerman or other arrangers are available in the Antonio Carlos Jobim Institute’s website. Some of these manuscripts were used in the analyses presented in this research. Arrangements by Jobim were compared to later arrangements by Ogerman, in order to verify the nature and the level of intervention of Ogerman’s contributions. Also, the research observes how this partnership has transformed along the 17 years it has occurred. To accomplish this, the research determined three lines of work that Jobim assumed by Jobim, and analyzed the relationship between Ogerman’s work as an arranger with and these lines. The work of Antonio Carlos Jobim arranged and conducted by Claus Ogerman reveals various kinds of work that can be assumed by the arranger, ranging from simply organizing and transcribing ideas to a complete recomposition based on a pre-existing idea. Therefore, it enhances the role of the musical arrangement in revealing and transfiguring the musical work’s identity.

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