Villa-Lobos, os Choros e o Pestana às avessas

A presença de Machado de Assis no ambiente cultural do século XIX deu-lhe também a oportunidade de exercitar um tipo de crítica musical. Romances como Memorial de Ayres e Dom Casmurro, além de alguns contos e crônicas, contêm impressões valiosas sobre estética e outros assuntos atinentes à prática musical naquele momento da História. Particularmente em O homem célebre e O machete, ele faz alusão a pressupostos objetivos de uma arte na qual se destaca a fronteira entre o popular e o erudito. Os impasses criados por essa divisão têm implicações não apenas estilísticas, mas também de ordem psíquica e social. Este estudo debate como essa dualidade do estado da música na capital brasileira, então definida pelo grande escritor realista do século XIX, vem a colaborar na formulação de um ecletismo estilístico que se estabelece mais tarde, quando se acirram tendências modernistas na obra de Villa-Lobos a partir dos anos 1920. Dessa maneira, a partir da base cultural mais ampla e complexa evidenciada por Machado, é revista a imagem da modernidade em Villa- Lobos, formada com a colaboração de críticos desde Milhaud e Mário de Andrade até os dias de hoje.

Villa-Lobos, Choros and Pestana Turned Inside Out

Machado de Assis’ partaking of the cultural world of the nineteenth century gave him the opportunity to exercise a form of musical criticism. Novels like Esaú e Jacó [Esau and Jacob], Memorial de Ayres [Counselor Aires's Memoirs] and Dom Casmurro [Lord Taciturn], and some short stories and essays, contain valuable observations on the aesthetics and other matters pertaining to music at that time in history. Particularly in the tales O homem célèbre [The Celebrity] and O machete [The machete], he alludes to the supposed objectives of an art which focuses on the border between the classical and the popular. The impasse created by this division has not only produced stylistic implications but also those of a psychological and social order. This study debates how this duality of the state of music in the capital of Brazil at the time, as defined by the great realist writer of the nineteenth century, comes to collaborate in formulating a stylistic eclecticism that is later established when modernist tendencies arise in the work of Villa-Lobos of the 1920s. Thus, from the broader and more complex cultural base as evidenced by Machado, we revisit the image of modernity in Villa-Lobos with the collaboration of critics from Milhaud to Mário de Andrade up to the present day.