Entre a vanguarda e o experimentalismo: o surgimento da Música Teatro – Amplificar

Entre a vanguarda e o experimentalismo: o surgimento da Música Teatro

Resumo

O presente artigo tem por objetivo avaliar que fatores contribuíram para o aparecimento da Música Teatro, um gênero híbrido que relaciona elementos sonoros e visuais a partir de técnicas composicionais musicais, gerando obras cênicas muitas vezes inusitadas e cômicas. Embora o ideal de relacionar de forma igualitária os elementos cênicos e musicais persiga a arte ocidental desde, pelo menos, o conceito de Obra de Arte Total (Gesamtkunstwerk) de Wagner, passando ainda por compositores como Stravinsky e Schoenberg, foi apenas a partir dos anos 60 que essa concepção foi formalizada e se tornou um gênero de fato. De acordo com nossas pesquisas, colocamos a hipótese de que a Música Teatro surgiu a partir do embate entre o Happening dos experimentalistas norte-americanos (sobretudo a obra e o pensamento de John Cage) e o Serialismo europeu. A partir de levantamentos bibliográficos, percebemos que a passagem de Cage em 1958 pelos Internationale Ferienkurse für Neue Musik em Darmstadt foi fundamental para a reconfiguração do pensamento musical ocidental. Vários compositores salientam que essa passagem de Cage, David Tudor e o grupo Fluxus pela Europa foi crucial para desestabilizar a estética serialista dominante. Dentre eles, Mauricio Kagel e Gilberto Mendes, dois dos principais criadores do gênero Música Teatro, descrevem longamente como foram atingidos pelo pensamento cageano e como isso se refletiu em suas obras naquele momento e posteriormente. A partir dessas declarações levantamos a possibilidade de o gênero ter surgido não do desenvolvimento ou saturação da Ópera, como comumente é apontado, mas sim do choque entre a Vanguarda e o Experimentalismo. Tal contato proporcionou um campo fértil para o desenvolvimento de novas linguagens musicais, dentre as quais, a Música Teatro.

Between Vanguard and Experimentalism: the Emergence of Music Theater

The current paper aims at analyzing which factors contributed to the arising of Music Theater, a hybrid genre that links visual and sonorous elements from musical composition techniques, producing non-representative scenic works often unusual and comic. Although the ideal of correlating equally the scenic and musical elements pursues western art since the concept of Wagner's Total Work of Art (Gesamtkunstwerk), still going through composers like Stravinsky and Schoenberg, it was only in the 1960's that this concept was formalized and became a genre indeed. According to our researches, we are stating the hypothesis that the Music Theater emerged from the clash between the Happening of American experimentalists (especially John Cage's work and thought) and the European Serialism. From literature surveys, we realized that the passage of Cage in the Internationale Ferienkurse für Neue Musik (1958) at Darmstadt was essential to the reconfiguration of western musical thought. Several composers emphasize that the passage of Cage, David Tudor and the Fluxus group in Europe was crucial to destabilize the dominant serialist aesthetics. Among them, Mauricio Kagel and Gilberto Mendes, two of the main creators of the Music Theater genre, describe at length how they were affected by Cagean thinking and how it reverberated in their works at that time and later. From these declarations we raised the possibility of the genre has not emerged from the Opera development or saturation, as it is often pointed out, but the clash between the Vanguard and Experimentalism. Such contact provided a fertile ground for the development of new musical languages, among which, the Music Theater.

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