Ensino da música sinfônica para jovens dos estratos subalternos: capital simbólico e controle social no capitalismo tardio – Amplificar

Ensino da música sinfônica para jovens dos estratos subalternos: capital simbólico e controle social no capitalismo tardio

Resumo

No Brasil, a década de 1990 foi marcada pelo início da proliferação do ensino privado extraescolar da música sinfônica direcionado a crianças e jovens de baixa renda, financiado por empresas privadas e/ou órgãos públicos. Ao longo de mais de duas décadas, tal prática educativa tem se sustentado em todo país graças a discursos que reservam à música sinfônica um lugar privilegiado no topo de uma estabelecida hierarquia das práticas musicais, propagandeada principalmente pelas mídias hegemônicas, legitimada por instituições acadêmicas e reforçada mediante a ação repressiva do Estado através das forças policias – quando estas agem violentamente contra a manifestação de práticas musicais próprias dos bairros favelizados. Diante da naturalização dos vários processos e ideologias envolvidos na concretização de tais práticas educativas, o estudo que se segue tem como objetivo identificar e buscar entender os discursos legitimadores desse tipo de ensino, compreendendo as relações de poder estabelecidas em um Estado capitalista, tendo como principal foco as que se encontram no âmbito do poder simbólico e da violência simbólica. A abordagem metodológica da pesquisa consiste em quatro etnografias sendo estas uma análise de minha experiência como professora de música de espaços destinados ao ensino privado da música sinfônica para jovens de baixa renda, a observação participante em outro espaço que promove esse tipo de ensino, uma pesquisa participante em uma página virtual criada exclusivamente para o presente estudo (direcionada a participantes e ex-participantes do contexto estudado) e a análise de materiais de divulgação dessas práticas educativas, ou eventos a ela relacionados. O estudo apresenta uma realidade violenta em que as práticas musicais são utilizadas como ferramenta de dominação e manutenção do status quo, uma vez que funcionam como capital simbólico e como formas de titulação e nomeação. O estudo também discute o grande conservadorismo (e sua naturalização) presente nos discursos hegemônicos sobre as práticas sonoras e o ensino destas.

In Brazil, the proliferation of private extra-school teaching of symphonic music to low income children and youth began in the 1990s, financed by private enterprises and/or the public sector. For more than two decades, such an educational practice has been sustained around the country thanks to discourse reinforcing a privileged space to symphonic music, on the top of an established hierarchy among musical practices, mainly diffused by the hegemonic media, legitimated by academic institutions and reinforced through the State repressive action via police forces -- when the latter act violently against musical practices proper to the favela neighborhoods. Facing the naturalization of various processes and ideologies involved in the concretization of such educational practices, the following study aims to identify and search for the legitimizing discourses regarding such practices, encompassing the power relations established in a capitalist State, having as its main focus those relationships in the realms of symbolic power and violence. The methodological approach of this research consists of four ethnographies, namely an analysis of my own experience as music teacher in spaces dedicated to the private teaching of symphonic music to low income youth, participant observation in another space that provides this kind of teaching, participatory research in a homepage exclusively created for this study’s purposes (directed to participants and former participants of the studied context) and an analysis of advertisement materials of the focused educational practices and of related events. This study presents a violent reality in which musical practices are used as a tool of both domination and status quo maintenance, since they work as symbolic capital and forms of entitlement and nomination. This study also discusses the enormous conservatism (and its naturalization) present in hegemonic discourses on musical practices and their teaching.

As informações apresentadas acima usam a grafia do original.